Comissão da Verdade ouve Adauto e Schatzmann

adauto

A Comissão da Verdade de Joinville ouviu, em sua terceira audiência pública na noite de segunda-feira (15), duas personalidades de destaque no cenário de perseguições políticas em Joinville durante o golpe militar de 1964, o ex-bancário Edegar Schatzmann, 74 anos, e o advogado Carlos Adauto Vieira, 81 anos. O laço em comum entre os dois, no início dos anos 60, era a defesa dos direitos dos trabalhadores – Schatzmann como militante do Partido Comunista e Adauto Viera como advogado trabalhista.

“O doutor Carlos Adauto foi o porto seguro dos operários, e isso despertou o ódio e a perseguição dos que não queriam a aplicação da lei”, disse Schtzmann ao referir-se ao advogado. A rotina de perseguições e prisões arbitrárias teve relação direta com o golpe de 31 de março. “Eu fui o primeiro preso político de Joinville”, relembrou Carlos Adauto, ao narrar para a comissão o comício que organizou uma semana antes do golpe, no dia 23 de março, para denunciar a articulação dos militares. A concentração ocorreu na praça do Expedicionário, próxima à Estação Ferroviária, marcada por discursos e tiros.

O resultado foi a primeira prisão, no escritório, quando redigia uma petição, que durou 65 dias. “Fui denunciado como mentor do Partido Comunista”, disse Carlos Adauto. O calvário de prisões teve passagens por batalhões do Exército em Joinville, Curitiba e Florianópolis e delegacias da Polícia Federal. Foram cinco anos, de 1964 a 1970 até o final do processo da Justiça Militar, quando foi absolvido. Adauto destacou que a pressão psicológica foi intensa, mas nunca sofreu tortura corporal.

Edegar Schatzmann foi preso três vezes após seu retorno da União Soviética para onde viajou a convite do Partido Comunista e retornou ao Brasil como clandestino. “Sofri sequelas que me afetam até hoje, mas faria tudo outra vez”, disse orgulhoso, ainda convicto que lutava por um país melhor “A nossa maior luta não era contra militares, mas por uma democracia sem adjetivos”, disse.

shatzmann

Passados mais de 50 anos da primeira prisão e da volta da normalidade política, Edegar Schatzmann tem como convicção pessoal que os dois sistemas de governo não deram certo. “Esquerda e direita faliram porque quiseram impor suas ideias à força. Hoje, esse jogo de esquerda e direita está superado”.

A Comissão da Verdade de Joinville, criada por lei no dia 26 de junho, é a única em âmbito municipal em Santa Catarina. É composta por dez membros entre titulares e suplentes que representam os poderes Executivo, Legislativo, Ordem dos Advogados do Brasil, Instituições de ensino superior e instituições de defesa dos direitos humanos.

O coordenador, Luiz Henrique Lima, procurador do Município, explica que além de ouvir as vítimas será feito um resgate histórico daquele período. “A comissão será um importante canal para ouvirmos vítimas e outras pessoas envolvidas nesses episódios e que queiram se manifestar”, explicou.

A Comissão da Verdade de Joinville, constituída por lei municipal em agosto, é a única criada em âmbito municipal em Santa Catarina e tem como meta ouvir vítimas e testemunhas de episódios de violação de direitos humanos. O relatório final será incorporado pelo trabalho da Comissão Estadual da Verdade até o mês de novembro.

Interessados podem entrar em contato com integrantes da CMV pelos endereços eletrônicos comissaodaverdade@oab.org.br, luizhlima@hotmail.com, rossana.cunha@gmail.com e maikon.jean.duarte@gmail.com .

Fonte: Secom

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