Quem vai matar o carrasco?

Nasser Haidar Barbosa
Psicólogo do Centro dos Direitos Humanos Maria da Graça Bráz e presidente do Conselho Carcerário de Joinville

 

A figura do carrasco é um personagem muito explorado em comédias ao redor do globo, sempre retratado de forma medieval e truculenta, desprovido de razão e sentimentos, apenas uma ferramenta cega e burra de tempos que gostaríamos de ter deixado para trás. Será apenas coincidência?

Pois bem, não somente como defensor dos Direitos Humanos, mas principalmente como cidadão e estudioso, ao ler a coluna de Opinião no Jornal A Notícia de Júlio César Cardoso (31/10) passamos a indagar quem seriam os “segmentos hipócritas” quem argumentam com fragilidade e ingenuidade moral e cristã. Seremos nós os defensores da vida e da lei? Ou serão aqueles que apenas se utilizam de palavras estranhas à grande massa para legitimar um posicionamento retrógrado pelo argumento da autoridade pseudo-intelectual? Enfim, não será essa verborréia falaciosa do Sr Júlio César Cardoso a tal “peça de retórica para a defesa de teses” dos defensores da institucionalização do assassinato, frio, calculista e premeditado?

Certo, depois de utilizada a arma dos inimigos, façamos a reflexão, agora sim, à luz dos argumentos. Um estudo na Inglaterra do início do século XIX mostrou que entre 250 condenados a forca, 170 tinham assistido pessoalmente a duas execuções capitais; Nos EUA, que são utilizados como exemplo de conduta para os defensores da pena de morte, entre 1963 e 1980 houve aumento de 122% nos crimes de estupro e latrocínio, isso também nos 39 estados daquele país que mantêm a pena de morte; Proporcionalmente à população, a violência nos EUA é 10 vezes maior que no Brasil (Fonte: dhnet.org.br e Brasil, Secretaria Especial de Direitos Humanos).

Muitos outros dados como estes podem ser levantados rapidamente, desconstruindo o fundamento de que o bárbaro exemplo instituído da pena de morte sirva para coibir crimes hediondos e a reincidência. É fato que a educação, o tratamento humano e o suporte social, cultural e econômico são as melhores estratégias para evitar a criminalidade e a permanência de pessoas no mundo dos delitos. Também é fácil encontrar pesquisas que apontam ambientes violentos como o berço de desenvolvimento de pessoas violentas, ou seja, não será formalizando a execução capital, que na prática já acontece, que iremos dar um bom exemplo para os cidadãos de bem que tanto necessitam de educação para formar uma base ética de valores sociais.

A pergunta que não quer calar é: se o crime de assassinato é hediondo e por isso justificaria uma reação igual – a pena de morte aplicada pelo Estado – a quem caberia a função de assassinar o carrasco? E quem aplicaria a pena de morte ao último dos carrascos de nossa sociedade, ele mesmo teria que se matar? No fim das contas teríamos um problema ambiental grave, porque ele teria que tirar sua própria vida no escuro, afinal, quem restaria para apagar a luz?

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