Salve, Zumbi dos Palmares – Ativismo Contra a Violência, Consciência Negra e Saúde

Professora Enfermeira do Núcleo de Apoio Técnico Docente do Curso de Graduação Enfermagem e do Conselho Municipal de Igualdade Racial, Vanessa Cardoso Pacheco.

Promover equidade e saúde foram um dos temas abordados no segundo dia dos Dezesseis dias de Ativismo, na última sexta-feira (21). O evento aconteceu no Anfiteatro da Associação Educacional Luterana Bom Jesus Ielusc com a assessoria da Professora Enfermeira do Núcleo de Apoio Técnico Docente do Curso de Graduação Enfermagem e do Conselho Municipal de Igualdade racial, Vanessa Cardoso Pacheco. Em seguida o Coletivo Kurima fez uma exposição do que significa “Consciência Negra”, baseados na carta de Steve Biko (Concepção da Consciência Negra) e no vídeo de Grada Kilomba (Lidando com o racismo na Europa).

Atender as necessidades específicas sobre a saúde da população negra ainda não é uma realidade que abraça os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), de acordo com Vanessa. Para ilustrar sua fala ela utiliza uma publicação da Unicef, “Por uma infância sem racismo”. As estatísticas colocadas são que crianças negras têm 25% mais chances de morrer do que as crianças brancas. A porcentagem de crianças negras fora da escola ainda é 62% maior do que crianças brancas. Para garantir os princípios do SUS: Universalidade, Integralidade e Equidade é preciso uma mudança na organização da saúde no país. “A equidade se fundamenta nos Direitos Humanos”, reforça Vanessa.

Direitos Humanos são conquistas de uma participação popular, porém, no tempo do Brasil colônia esta participação se dava por homens com mais de 25 anos ou homens com mais de 21 anos que fossem chefes de família, militares, clérigos e homens com independência econômica, ou seja, mulheres e escravos tinham seus direitos negados desde esta época. Esta situação criou uma cultura de preconceito e exclusão. O Brasil também sofreu com o período do Golpe Militar (1964 – 1985). A perseguição e recusa de direitos tiraram do sistema oficial de informação sobre a cor dos indivíduos, dificultando a contagem e necessidades da população negra, uma vez que as pessoas se intitulavam não negras.

Ocorreram alguns avanços com a Constituição Federal de 1988, no entanto, o Brasil é o décimo país mais rico e está em 79° entre 187 países como o mais desigual. Para garantir a equidade é preciso dar mais para quem precisa mais. “É difícil garantir a ausência de diferenças sociais em um país que historicamente tem uma hierarquia de classe social, gênero e raça”, explica Vanessa.

Em Joinville de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística de 2012 (IBGE), 13, 7% da população se declara negra, isto corresponde a 70.989 pessoas, contabilizando 35 mil mulheres negras. No entanto, a perpetuação da violência independe da quantidade da população negra, mas, sim de estereótipos de gênero, raça e classe. No Brasil 35 mil jovens são vítimas de homicídio, 70% são negros. Quando o assunto é violência contra a mulher, a região sul está acima da média nacional sendo o terceiro pior lugar de incidência de estupros. A mídia também propaga situações de preconceito, o mais atual é a minissérie global “Sexo e as Nega”, que apresenta a mulher como objeto sexual.

Outro ponto é a análise da questão biológica, onde culturalmente e historicamente se diz que existe resistência física maior nos negros, e isto é uma inverdade. Segundo a Enfermeira Vanessa, a Anemia Falciforme, por exemplo, atinge de 2% a 6% da população em geral neste quadro de 6% a 10% dos negros são portadores desta doença e existem poucas pesquisas neste sentido. A hipertensão é mais frequente e mais precoce, com evolução mais grave na população negra estas entre outras como coronopatias, insuficiência renal crônica, glaucoma, miomatose e diabetes são doenças diagnosticadas mais agressivas. Outras condições desfavoráveis como a desnutrição, morte violenta mortalidade infantil, doenças no trabalho e abortos sépticos também acontecem com mais frequência na população negra.

Por meio da militância, conquistas são alcançadas, como a “Política Nacional de Saúde Integral da População Negra”, o racismo institucional também foi reconhecido pelo Ministério da Saúde. Mas, fica diante de tantos obstáculos a responsabilidade de se fazer mais para cumprir aquilo que diz a Declaração Universal dos Direitos Humanos. “Existe a necessidade de produção de conhecimento científico, capacitação de profissionais da saúde, informação, atenção à saúde livre de racismo”, completa Vanessa.

O Coletivo Kurima coroou o encontro fazendo uma relação sobre branquitude (relações de poder) e negritude (reconhecimento das raízes). Traz a tona novamente o poder da mídia na alienação, na forma de linguagem e nos estereótipos de padrões de beleza. “A ignorância da diversidade diz respeito a todos”, ressalta Roberta Lira que faz parte do Coletivo. Aprofunda o tema com a fala de Grada Kilomba (vídeo), que mostra o processo assumir o racismo que passa pela negação, culpa, vergonha e reconhecimento.

Quando se chega ao reconhecimento se inicia o processo de criar subsídios para reparar o mal feito pela história em relação aos negros. Para esta reparação é necessário que o negro também assuma sua origem, contando sua história, se torne visível e se imponha. “O racismo é um problema do branco que atinge a população negra”, expõe Roberta.

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